Memórias de uma criança

       É engraçado aquilo que a nossa mente capta ao longo da nossa vida! Parece que foi ontem, que eu vinha a pé da escola às 15h30 para casa, e que ia sentar-me no escritório do meu pai, a rabiscar o calendário de mesa que eles tinham em cima da secretária. Foi lá que joguei os jogos de computador mais viciantes (na altura), foi lá que vi passar tantas caras, foi lá que vi pela primeira vez a Adriana (one of my best friends)...

       Também me recordo perfeitamente do meu pai e do meu tio estarem a contruir uma casota de madeira para o Bolinhas, o cão da família (Paz à sua alma! 'Tadinho, só tinha um testículo, tinha uma verruga ao pé do olho e eu e os meus primos enfiavamos-lhe um pau [de madeira] naquela bola redonda castanha que era o seu ânus [eufemismo de "cú"]). Morreu no quintal da minha avó, cheio de varejeiras nos olhos... (Para que conste, nós amávamos aquele cão!). Lembro-me como se fosse ontem, da letras pintadas com tinta vermelha por cima da entrada da casota. A palavra "Bolinhas" dava a volta ao arco da entrada da casota, e a tinta das letras tinha escorrido um bocado... Lembro tão bem que o cão mal dormia na casota, pois nem cabia lá dentro (quase)! E quando nós brincavamos em cima da casota do cão? Meu Deus! Parece que me estou a ver sentado em cima dela! Também me lembro dos maus momentos com o cão... Sim, também os tive! Uma vez passaram-lhe por cima do rabo de bicicleta do outro lado da urbanização (eu estava do outro lado a ver) e o cão veio dar uma volta tão grande só para me morder a mim! --"  E ainda me lembro que pousei a minha chupeta algures e que o Bolinhas foi lá buscá-la e levou-a na boca! Resultado: a chupeta ficou num estado lastimável, eu chorei baba e ranho e foi assim que eu deixei a chupeta de vez. WOW, tantas memórias só de um cão? É melhor passar para um gato! Ou melhor, uma gata! Recordo-me tão bem de pegarmos na gata dos meus primos, a Fofinha, e mandá-la pelo ar (chegava a ultrapassar o fio da electricidade). Ela acabava por aterrar em cima da laranjeira e fugia de nós a toda a velocidade. Coitados dos bichos, torturados por gaiatos...

       Uma das coisas mais estúpidas que ficou para sempre gravado na minha memória foi ver na televisão uma senhora aos saltos, com óculos, cabelo encaracolado e curto e com um casaco de cor creme, a gritar "PSD! PSD!". Ficou para sempre aqui dentro, sabe-se lá porquê! E a história do gelado? Entrei num café para pedir um gelado, e o senhor, a gozar comigo (a brincar) deu-me um cubo de gelo. Lembro-me de olhar à minha volta e estar várias pessoas a observar-me e a rir. Aí pensei: "Ok, já vi que não percebeste o que eu queria, velho d'um corno! Adeus!".

       Outra coisa que nunca sairá da minha cabeça são as voltas de bicicleta que eu dava com a minha irmã, com a Patrícia e com o Pedro! Eu ia na bicicleta roxa da irmã da Patrícia, no "assento" de trás, que era uma tábua. O Pedro levava a bicicleta. A minha irmã e a Patrícia iam as duas em bicicletas diferentes. Depois da malta toda "montada", começavamos a pedalar (O Pedro começava! Eu não!) e iamos tocar às campainhas, para fugir a toda a velocidade depois! Um dia correu mal e fomos apanhados por uma velha que estava pronta a atacar! Levamos uma descasca enorme! Só me lembro da velha sempre a gritar: "Mas que mer*a é esta??!"... Era isso que eu ouvia só a velha dizer: mer*a, mer*a e mer*a! Ahahahah.

       E a coisa que eu me lembro de mais pormenores no passado, foi do 'porta-chaves' que a Stephanie me deu, no 5º ano. Lembro-me de tudo! Lembro que foi numa quarta-feira, às 8h30, na escola, à porta da sala 24, onde iamos ter aula de português com a professora Matilde (Qualquer coisa, escapou-me este pormenor). Eu estava sentado na última fila e ao meu lado tinha as duas marianas. À minha frente estava a Patrícia, a Stephanie e o Ricardo Santana! As coisas mais insignificantes são aquelas que eu me lembro mais!

       Foram tantas as memórias! Podia ficar aqui a noite inteira, mas há tanto para contar!... Talvez um dia faça uma segunda parte do post. :)   Mas não vou ter pena desta fase já ter passado. Passou, passou! Agora ficam as memórias, as melhores e também as mais insignificantes. Mas ficam, e isso é que importa! Um dia vou voltar a recordar-me daquilo tudo que fiz na minha infância e também na minha adolescência e vou pensar: "Vou viver as minhas memórias de novo, mas sem sair do mesmo lugar". :D